“Estados Unidos não vão perder a hegemonia econômica tão cedo”, diz Fabio Kanczuk


Apesar do avanço da China e da crescente fragmentação geopolítica, a hegemonia econômica dos Estados Unidos segue firme – e deve permanecer assim por, pelo menos, mais duas décadas. Essa é a avaliação de Fabio Kanczuk, diretor de macroeconomia do ASA Investments e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. “Não há menor chance de os Estados Unidos perderem a hegemonia econômica tão cedo”, afirmou, com ênfase, durante o painel “O fim do excepcionalismo americano? Os riscos globais e as novas tendências de investimentos”, realizado nesta sexta-feira (25) na Expert XP 2025, em São Paulo.
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Segundo Kanczuk, dois fatores sustentam essa excepcionalidade americana: produtividade e escala. No primeiro quesito, a vantagem é clara. “Quando se olha para o PIB per capita, ou seja, a renda dividida pelo número de pessoas, os Estados Unidos estão muito à frente. Nem Europa, nem Japão chegam perto”, explica. Em relação à escala, embora a China tenha uma população quatro vezes maior, ainda levará anos para atingir o mesmo nível de relevância econômica, com base em uma estrutura tão madura como a americana.
No entanto, o especialista faz uma crítica dura à política econômica conduzida pelo presidente dos Estados Unidos. Para ele, a guerra comercial iniciada por Donald Trump, com imposição de tarifas e confrontos com parceiros estratégicos, causa mais instabilidade do que benefícios. “Não existe economista mais ou menos sério que ache que essa política faz algum sentido. Ela prejudica os outros, mas também os próprios Estados Unidos. E não vai funcionar”, afirmou.
De acordo com Kanczuk, o resultado dessa estratégia tende a ser um crescimento menor e inflação mais alta nos EUA — fatores que, no limite, podem corroer o poder político de Trump. Ao mesmo tempo, a China vem aproveitando o espaço deixado pela retração diplomática americana para ampliar sua influência global. “Os chineses têm feito o melhor possível para se aproveitar dessa situação, especialmente na Ásia, que começa a sair da órbita americana e ir para a chinesa”, avalia.
Para o Brasil, o cenário é de alerta, embora o impacto imediato possa ser menor. “Como nossa economia ainda é muito fechada, a gente não sofre tanto. Está longe do centro do furacão. Mas também não é motivo para comemorar: a gente só está menos mal que os outros”, diz Kanczuk.
Efeitos e oportunidades
Charles Ferraz, diretor global de investimentos do ASA Investments, também vê mais ruído do que resultados na política externa de Trump. “O mercado não gosta de instabilidade. Por isso, a pauta do segundo semestre deve ser bem diferente da do primeiro”, afirma. Para ele, apesar da retórica intervencionista e dos conflitos comerciais, os fundamentos continuam sustentando a liderança americana. “Olhando friamente, pelos dados, a economia americana ainda é a maior. A China está crescendo, mas está longe da maturidade dos Estados Unidos, com uma renda per capita muito superior. A hegemonia não deve mudar tão cedo”.
Já para Fabio Okumura, head da ASA Asset, o ambiente geopolítico mais fragmentado pode, na verdade, abrir uma “avenida de oportunidades” para o Brasil. O país, segundo ele, está bem posicionado em temas estratégicos como segurança alimentar, petróleo e gás, além da transição energética. “O multilateralismo pode ser bom. Se o mundo buscar mais parceiros fora dos eixos tradicionais, o Brasil tem muito a oferecer”.
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