Fluxos de rios mapeados ao longo de 35 anos revelam mudanças alarmantes

Jul 23, 2025 - 07:14
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Fluxos de rios mapeados ao longo de 35 anos revelam mudanças alarmantes

Uma nova análise abrangente mostra que os quase 3 milhões de rios que cortam o planeta estão mudando de forma mais rápida — e desigual — do que os cientistas esperavam, com grandes implicações para o abastecimento de água potável, ecossistemas, navegação e risco de enchentes.

Pesquisadores utilizaram observações de satélite combinadas com modelagem computacional para reconstruir o fluxo diário de água de cada rio da Terra nos últimos 35 anos. O panorama global que surgiu foi preocupante.

Quase metade (44%) dos maiores rios em regiões de jusante está transportando menos água a cada ano, segundo um estudo publicado em dezembro de 2024 na revista Science.

Entre os sistemas que apresentaram quedas significativas estão o Congo (o segundo maior rio da África), o Yangtzé, na China, e a bacia do Rio da Prata, na América do Sul, afirmou Dongmei Feng, autora principal do estudo e professora de hidrologia na Universidade de Cincinnati.

Os pequenos rios de nascente contam outra história: em regiões predominantemente montanhosas, 17% apresentaram aumento no fluxo.

Embora o estudo não tenha explorado as causas dessas mudanças, os autores afirmam que os principais fatores são a atividade humana e a crise climática impulsionada pelos combustíveis fósseis, que está alterando os padrões de chuva e acelerando o derretimento da neve.

Estudos anteriores tendiam a focar apenas nos maiores rios, produzindo resultados limitados a locais e períodos específicos, afirmou Colin Gleason, coautor da pesquisa e professor de engenharia civil e ambiental na Universidade de Massachusetts Amherst.

Os métodos utilizados neste estudo permitiram analisar “tudo em todos os lugares ao mesmo tempo”, disse ele à CNN. Embora isso ainda não ofereça a precisão local de outros trabalhos, “acreditamos que este talvez seja o mapa mais preciso do fluxo dos rios já feito”, declarou.

A conclusão de Gleason: “Meu Deus, os rios do mundo são bem diferentes do que imaginávamos.” Alguns estão mudando 5% ou até 10% ao ano, apontou o relatório. “Essa é uma mudança muito, muito rápida”, acrescentou.

Os rios são “como os vasos sanguíneos da Terra” e mudanças em seu fluxo têm efeitos profundos, disse Feng.

Quedas significativas no fluxo de rios de jusante significam menos água disponível nas maiores extensões de muitos rios do planeta, aponta o relatório. Isso se traduz em menos água doce para consumo humano, irrigação de lavouras e criação de gado.

Fluxos mais lentos também reduzem a capacidade dos rios de transportar sedimentos — formados por terra e pequenas rochas. Isso tem impactos graves mais abaixo, já que os sedimentos são essenciais para formar deltas, que oferecem proteção natural contra a elevação do nível do mar.

Nos menores rios, muitos afetados pelo aumento do derretimento de gelo e neve com o aquecimento global, fluxos mais rápidos podem trazer efeitos positivos, como fornecer nutrientes para os peixes e facilitar sua migração.

Mas há problemas. O aumento da velocidade da água pode “lançar uma surpresa indesejada” nos planos de hidrelétricas em regiões como o Himalaia, já que mais sedimento é transportado rio abaixo, potencialmente entupindo a infraestrutura.

O fluxo mais rápido também pode agravar enchentes. O estudo identificou um aumento de 42% em grandes inundações nos pequenos rios de montanha ao longo dos 35 anos analisados. Gleason citou Vermont, que sofreu enchentes devastadoras nos últimos verões, resultado de fatores como as mudanças climáticas — que estão intensificando a força das chuvas — e da interferência humana no fluxo natural dos rios.

Hannah Cloke, professora de hidrologia na Universidade de Reading, que não participou do estudo, disse que o foco abrangente da pesquisa, incluindo até os menores rios, é fundamental.

“Algumas das inundações mais mortais não ocorrem necessariamente nos grandes rios que você imaginaria”, disse ela à CNN. “Em vez disso, estão ligadas a rios pequenos ou mesmo a cursos d’água que costumam estar secos, mas que, de repente, se enchem e arrastam pessoas, carros e edifícios.”

O próximo passo é entender exatamente por que esses fluxos estão mudando tão rapidamente e como responder a isso.

“Existe uma ligação direta entre a atividade humana e as mudanças no nosso ciclo de água — essencial para a vida”, afirmou Cloke. Proteger os rios significa queimar muito menos combustíveis fósseis, adaptar-se às mudanças já em curso e lidar com os impactos indiretos das ações humanas, como a alteração de canais fluviais e a construção em áreas de várzea, acrescentou.

“Os rios são criaturas dinâmicas e belas”, disse Cloke, “e os seres humanos nunca deveriam subestimá-los ou desperdiçar os recursos que eles nos fornecem.”

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