Recife paga mais de 2 salários mínimos em VA para vereadores

Os vereadores da Câmara Municipal do Recife recebem um cartão alimentação mensal no valor de R$ 3.095. Este é o maior VA (vale-alimentação) entre as capitais brasileiras, conforme levantamento do Poder360, e equivale a mais de 2 salários mínimos –fixado em R$ 1.518.
Considerando 22 dias úteis no mês, com uma jornada de trabalho que vai de 2ª a 6ª feira, o valor representa R$ 140 por dia.
O montante é quase 50% superior ao pago em São Paulo –a maior cidade do país– onde a Câmara Municipal aprovou na 2ª feira (21.jul.205) de 2025 um reajuste de 9,41% no VA.
Apesar de ter 55 vereadores, São Paulo paga menos que Recife, que tem 37 representantes. Cada vereador paulistano agora recebe um VA de R$ 2.033, depositados de forma integral todo mês.
O aumento na capital paulista foi quase o dobro da inflação oficial, que ficou em 5,48% no período, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
São Paulo não está sozinha nos aumentos de benefícios para vereadores. Em abril, Belo Horizonte aprovou o 2º maior VA do Brasil: R$ 2.374, também em parcela única. Considerando que o IPCA acumulado no período foi de 5,49%, o reajuste ficou cerca de 16 vezes acima da inflação. O valor anterior era de R$ 1.250.
Também em abril, a Câmara de Rio Branco, no Acre, alterou Lei Municipal nº 2.451 para conceder auxílio-alimentação e auxílio-saúde aos vereadores. De caráter indenizatório, esses benefícios não integram o salário. Funcionam como complemento.
Ambos correspondem a 25% do subsídio mensal do parlamentar, sendo o auxílio-alimentação pago mensalmente e o auxílio-saúde dobrado em dezembro.
A proposta subiu o pagamento para cerca de R$ 3.006 por mês a cada vereador como auxílio-alimentação, considerando o salário atual de R$ 12.025. No mês de dezembro, esse valor chega a R$ 6.012.
O infográfico a seguir mostra as principais capitais brasileiras onde os vereadores possuem algum tipo de benefício para alimentação:
O levantamento feito pelo Poder360 teve como base dados obtidos em portais da transparência, diários oficiais, sites das Câmaras Municipais e atos administrativos disponíveis ao público.
Foram analisados valores de benefícios alimentares pagos a vereadores nas capitais brasileiras. A maioria dos municípios que regulamentam esse tipo de auxílio opta adota o modelo de VA –como Recife, São Paulo e Belo Horizonte. Em alguns casos, porém, os atos ou legislações não especificam se o benefício concedido é VA ou vale-refeição (VR), o que impede uma classificação definitiva. Não foram incluídas capitais que não possuem nenhum tipo de auxílio explícito.
O VR é um destinado à aquisição de refeições durante a jornada de trabalho. Geralmente é calculado com base nos dias úteis trabalhados e concedido diariamente.
O VA, por sua vez, serve para o custeio da alimentação em estabelecimentos comerciais. É depositado em forma de crédito mensal fixo, independentemente da quantidade de dias trabalhados no mês.
Mesmo nas cidades em que o valor é concedido em uma única parcela mensal, foi calculado o valor médio diário com base em 22 dias úteis –uma jornada de trabalho que vai de 2ª a 6ª feira. Isso permite comparações proporcionais entre os municípios.
A estimativa diária foi mantida mesmo nos casos de pagamento fixo, já que ajuda a dimensionar o custo-benefício real.
SEM BENEFÍCIO, MAS DEPENDE
Apesar de estarem entre as capitais mais populosas do país, algumas Câmaras não oferecem auxílio-alimentação –nem VR, nem VA– de forma regulamentada ou transparente aos seus vereadores.
É o caso de Salvador, uma das 5 maiores cidades do Brasil. Os 43 vereadores da capital baiana recebem R$ 26 mil mensais, mas não contam com um benefício oficial para alimentação.
Em Curitiba, a remuneração também é elevada –R$ 20.484– e, assim como em Salvador, não há previsão formal de pagamento de vale-refeição.
Entre as capitais que não concedem nenhum tipo de auxílio nesse sentido, Campo Grande chama atenção. Mesmo sem o benefício, a cidade aprovou um reajuste de 37,33% em jan.2025. O salário dos vereadores subiu para R$ 26.080 –um dos mais altos do país.
Situação semelhante acontece em Cuiabá, onde os parlamentares também recebem R$ 26.080,98 mensais. É o mesmo valor pago em São Paulo, mas sem adicional para alimentação.
Em Fortaleza, Goiânia e Manaus não há valor fixo oficial para vale-refeição ou alimentação.
Mas na capital cearense, cada vereador recebe salário de R$ 26.080 e tem à disposição R$ 70.581 mensais em verba de gabinete. Com esse valor, podem ser contratados de 8 a 22 assessores.
Parte dessa verba pode ser usada para benefícios diversos, como vale-alimentação, limitado a até 20% do total. Isso equivale a R$ 14.116 mensais. A Câmara, no entanto, não detalha como os valores são utilizados.
Manaus também registra pagamentos extras, incluindo R$ 98 mil mensais como verba de gabinete para a contratação de assessores. Com 41 vereadores, o total chega a cerca de R$ 4 milhões mensais em verbas não detalhadas.
Já a Câmara Municipal de Goiânia aprovou em dez.2024 um “auxílio-representação” no valor de R$ 6.900 vereadores em cargos como presidência de comissões e lideranças de governo ou partidária. O benefício tem caráter indenizatório –ou seja, não entra oficialmente como parte do salário, mas funciona como um complemento.
O Poder360 procurou as Câmaras Municipais de Fortaleza, Goiânia, Florianópolis, Belém, Distrito Federal, Belo Horizonte e Rio Branco para solicitar esclarecimentos sobre os valores e regras de concessão dos benefícios a vereadores.
Até a publicação desta reportagem, não houve retorno. O texto será atualizado caso haja manifestação.
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