Ação de Trump contra o Brasil faz sentido na sua própria lógica

Em maio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), prometeu que não entraria mais em assuntos estrangeiros e não daria mais “palestras sobre como viver” a outros países. No contexto de críticas a intervenções norte-americanas no Oriente Médio, o republicano disse que os povos deviam seguir “os seus próprios destinos à sua maneira”.
Contudo, bastaram 2 meses para Trump enviar cartas de apoio a Jair Bolsonaro (PL) e pedir que o STF (Supremo Tribunal Federal) encerre a “caça as bruxas” ao ex-presidente brasileiro. Antes disso, o republicano se juntou a Israel nos ataques ao Irã, durante a “guerra dos 12 dias”.
A aparente contradição entre o discurso e a prática segue uma lógica própria de Trump, que o permite “ignorar” certos princípios de não intervenção para fins práticos, diz o internacionalista Matheus Albuquerque. É semelhante à frase atribuída ao escritor Nicolau Maquiavel: “os fins justificam os meios”.
O especialista da Dharma Politics afirma que o presidente dos EUA elabora seus discursos com sua própria visão de mundo, para promover a ideia de um líder transformador, fazendo com que o outro país se recoloque em uma “posição de primazia dos EUA”.
“Em termos estritos de teoria de relações internacionais, não há uma intervenção dos Estados Unidos no cenário político nacional. O que há de fato até aqui é um ensaio de ingerência que se manifesta em claro interesse a um componente estratégico ligado à maneira como Trump enxerga a realidade”, afirma Albuquerque.
Ao avaliar a história política dos EUA, o internacionalista afirma que o presidente norte-americano segue, sobretudo, seus próprios interesses em todas as suas ações.
Prometer que não intervirá em assuntos estrangeiros, e pouco depois aplicar sanções a autoridades brasileiras e impor tarifas de 50% a produtos brasileiros com justificativas políticas, tem o objetivo de “redesenhar a ordem internacional de forma consistente”.
“Nesse sentido, suas críticas ao Supremo Tribunal Federal brasileiro e a defesa de Jair Bolsonaro são politicamente rentáveis perante sua base. Ao mesmo tempo, reforçam a narrativa de que Trump está disposto a defender os valores que considera fundamentais, ainda que isso contrarie interesses comerciais de curto prazo”, disse o especialista.
Nas taxas ao Brasil, o presidente dos EUA busca diminuir os riscos econômicos com o fortalecimento do Brics, ao mesmo tempo que deseja proteger big techs das legislações brasileiras que responsabilizam as redes sociais por publicações dos usuários.
EQUILIBRAR O PARTIDO
Albuquerque afirma que Trump age por interesse, mas precisa atender a bases específicas para se manter no poder.
Nos EUA, o Partido Republicano desenvolveu uma base isolacionista que apoia o interesse norte-americano acima de tudo –daí o lema “America First” que elegeu Trump. Ao mesmo tempo, outra ala segue uma lógica que deseja “interferir” em outros países para assegurar interesses norte-americanos.
A maneira que o atual presidente encontrou de “equilibrar” essas duas forças da política é se mostrar um grande construtor de acordos, sejam políticos ou tarifários, que levem a um benefício dos EUA.
Essa tarefa, no entanto, é difícil de se executar, e cabe a Trump mover as peças para chegar a um resultado satisfatório com sua base –o que nem sempre é o caso.
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