Filipe Martins deveria estar solto, diz jornal dos EUA em editorial

Em editorial publicado no domingo (27.jul.2025), o jornal norte-americano The Wall Street Journal defende que o ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência Filipe Martins seja solto. Segundo a publicação, o Brasil usou registros falsos da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA para justificar a prisão.
Martins é réu acusado de integrar o chamado núcleo 2 da tentativa de golpe de Estado. Foi preso em 2024 depois que a PF (Polícia Federal) encontrou no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), um arquivo com uma lista de passageiros do voo presidencial para Orlando (EUA) em dezembro de 2022. Foi solto, mas é alvo de medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica.
Bolsonaro viajou a Orlando –levando uma comitiva presidencial– em 30 de dezembro de 2022. A PF usou a lista de passageiros encontrada com Cid para embasar a prisão preventiva de Martins, argumentando que ele estava foragido. A defesa diz que Martins não fez qualquer tentativa de fuga ou obstrução e insiste que houve erro na identificação do passageiro.
Ao prestar depoimento em 24 de julho, Martins disse que não embarcou no voo da comitiva do ex-presidente e que o nome que aparece na lista de passageiros seria de um “homônimo” (alguém com o mesmo nome).
Segundo o delegado Fábio Shor, que depôs como testemunha da defesa em 21 de julho, o passaporte de Martins, declarado como extraviado por ele, foi registrado pelas autoridades dos EUA. Para o delegado, há indícios de que o ex-assessor tentou atrapalhar as investigações.
No editorial, o WSJ diz que a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, prometeu em janeiro fazer uma limpeza no CBP (sigla para Customs and Border Protection, o serviço de alfândega e proteção de fronteiras dos EUA).
“Seis meses depois, ela ainda não explicou o mistério dos registros de viagem falsos no CBP de Orlando”, escreveu a publicação.
“O caso envolve Filipe Martins, integrante do círculo próximo do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Desde março de 2024, um tribunal brasileiro tem usado registros falsificados do CBP para manter Martins detido como risco de fuga”, afirma o editorial.
“Martins deveria estar em liberdade enquanto prepara sua defesa. No entanto, nem Kristi Noem nem o secretário de Estado [norte-americano], Marco Rubio, se manifestaram sobre o que pode estar podre em Orlando. Os advogados do governo dos EUA estão obstruindo a equipe jurídica de Martins. O problema vai além de Martins: a falsificação de dados de viagem compromete a segurança nacional dos EUA”, diz o editorial.
O jornal cita a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano), e a justificativa de que a alíquota seria cobrada por causa do tratamento dado pela Justiça brasileira a Bolsonaro.
O WSJ também menciona o argumento de Trump, escrito na carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que haveria deficit comercial com o Brasil quando, na realidade, há superavit. Dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) mostram que a relação desde 2009 é deficitária para o Brasil e superavitária para os EUA.
“O presidente Trump anunciou tarifas de 50% sobre o Brasil neste mês, apesar de os EUA terem superavit na balança comercial bilateral. Em sua carta de 9 de julho a Lula, Trump menciona ‘deficits comerciais’ no penúltimo parágrafo. Mas sua principal queixa é a perseguição judicial a Bolsonaro, que perdeu a tentativa de reeleição em outubro de 2022”, diz o jornal.
“A deterioração da democracia brasileira é preocupante. Mas a ameaça de tarifas não surtiu efeito sobre Lula nem sobre o politizado Supremo Tribunal Federal”, declara.
“Trump talvez devesse começar em casa, com uma investigação transparente sobre como registros falsos relacionados a Martins foram parar no site do CBP, depois desapareceram e então reapareceram. Isso teria o benefício adicional de isentar Martins da acusação de ter fugido ilegalmente do Brasil”, lê-se no editorial.
RELEMBRE O CASO
Filipe Martins foi preso em 8 de fevereiro de 2024, na operação Tempus Veritatis. Foi solto em agosto por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. A defesa do ex-auxiliar presidencial sempre contestou a versão de que ele teria viajado com o ex-presidente.
A Polícia Federal nunca apresentou provas definitivas dessa viagem de Martins aos Estados Unidos. Ao contrário. A defesa do acusado mostrou evidências de uma fraude em registros do que a PF dizia ser a entrada dele nos EUA.
A empresa aérea Latam emitiu declaração (íntegra – PDF – 88 kB) atestando que Martins embarcou de Brasília para Curitiba em 31 de dezembro de 2022 –o que derrubava a hipótese de ele ter saído do país no dia anterior.
A PF também argumentava, quando pediu a prisão de Martins, que ele estava foragido. No entanto, o ex-assessor estava no Paraná, em local conhecido e até publicava imagens em redes sociais. Ainda assim, a prisão foi decretada e o ex-assessor ficou por quase 7 meses preso.
O ministro Alexandre de Moraes, ao conceder a saída da prisão, mesmo tendo conhecimento de todas as evidências apresentadas pela defesa sobre o réu não ter fugido do país, decidiu impor as seguintes medidas cautelares:
- uso de tornozeleira eletrônica; apresentação semanal à Justiça do Paraná;
- proibição de sair do Brasil e entrega de seus passaportes;
- proibição de usar redes sociais; e
- proibição de se comunicar com outros investigados.
Qual é a sua reação?






