Botox falsificado não é apenas ineficaz: pode causar paralisias e infecções

Quando você decide realizar um procedimento estético, não deve se preocupar apenas com o profissional que você vai escolher para realizar o procedimento, mas com a procedência do material utilizado. Ainda mais quando será usado algum injetável, como toxina botulínica ou preenchedores.
O perigo não está apenas em usar uma substância perigosa, como o PMMA, cujos perigos já foram amplamento difundidos. A recente apreensão de um lote falsificado de botox pela Anvisa trouxe à tona os riscos do uso de produtos conhecidos, porém sem procedência confiável.
Quais são os riscos do uso de botox falsificado?
De acordo com o dermatologista Pedro Jordão Caldas Ferreira, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP), o perigo vai muito além da ausência do resultado estético desejado, e inclui:
- Contaminação biológica: produtos falsificados podem conter bactérias, fungos ou endotoxinas, levando a infecções locais ou até quadros sistêmicos graves, como os casos de botulismo registrados recentemente em Minas Gerais — que podem culminar no óbito do paciente devido à paralisia da musculatura respiratória;
- Paralisias indesejadas: de acordo com a concentração e a composição, pode haver difusão exagerada da toxina, causando assimetrias severas (principalmente das sobrancelhas, pálpebras e lábios) ou comprometimento muscular funcional (fala, mastigação, deglutição);
- Reações imunológicas: impurezas ou proteínas não controladas podem desencadear respostas inflamatórias severas e até a formação de anticorpos neutralizantes — que tornam o paciente “resistente” a futuras aplicações, mesmo com toxinas legítimas.
Além disso, a aplicação da substância desconhecida pode ocasionar:
- Comprometimento da mímica facial, com paralisias assimétricas e prolongadas, principalmente dos lábios;
- Ptoses (quedas) indesejadas, como das pálpebras e sobrancelhas;
- Fibroses e aderências musculares, caso a substância injetada contenha agentes não biocompatíveis que gerem inflamação;
- Dores intensas;
- Formação de cicatrizes residuais.
A dermatologista Najara Gomes, médica titular da SBD, reforça que grande parte do perigo se encontra na não fiscalização de todos os seus processos. “Por se tratar de um produto biológico, qualquer desvio nos processos de fabricação, transporte ou armazenamento pode gerar consequências sérias”, considera a especialista.
Ela ainda reforça que em muitas ocasiões o problema pode ser irreversível.
Há como reverter o problema?
Tudo vai depender do que foi colocado na composição do produto que foi aplicado no rosto inadvertidamente. “Em falsificações mais graves, a substância presente no frasco pode não conter toxina botulínica, mas sim preenchedores de baixa qualidade ou compostos de uso proibido, como silicone industrial, parafina ou óleos minerais”, reforça Gomes.
Essas substâncias não são facilmente removíveis do organismo e podem causar inflamações crônicas. “Como esses materiais não são biodegradáveis, mesmo com cirurgia, a remoção completa é difícil e muitas vezes impossível sem causar danos adicionais”, completa a dermatologista.
“Nesses casos, não há antídoto nem protocolo padronizado de reversão. Dependendo do que foi injetado, o dano pode ser irreversível — exigindo cirurgias reparadoras, tratamentos prolongados ou podendo, inclusive, culminar no óbito do paciente, nos casos de botulismo”, finaliza Ferreira.
Como o profissional de saúde e o consumidor podem se proteger?
A ginecologista Fernanda Torras, especialista pela Santa Casa de São Paulo, que utiliza o botox em tratamentos ginecológicos, reforça a importância do profissional de saúde conferir os produtos que usa em consultório, mesmo que a procedência seja confiável. “Todo produto regularizado pela Anvisa possui registro, validade, número de lote, número de série e nota fiscal”.
Torras reforça ainda a importância do armazenamento adequado, além do manuseio correto ao diluir a substância e aplicá-la no paciente: tudo isso pode influenciar no produto e causar problemas. Portanto, cabe ao paciente escolher bem o profissional que fará esse tipo de procedimento em seu rosto e corpo.
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