Diretor da Eurasia prevê fracasso do Brasil em evitar tarifas dos EUA

O diretor para as Américas da consultoria Eurasia, Christopher Garman, afirmou que o Brasil não deve conseguir avançar nas negociações com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no curto prazo. Segundo ele, as tarifas de 50% impostas a produtos brasileiros devem entrar em vigor.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Garman avalia que o melhor cenário seria o Brasil aceitar a imposição das tarifas dos EUA sem reagir. Com o tempo, acredita que o governo e o setor privado podem conseguir algum alívio.
+ Leia mais notícias de Política em Oeste
“O impacto das tarifas globais tende a chegar ao bolso do consumidor através de mais inflação", disse. "Portanto, a Casa Branca pode ficar mais passível de aceitar tarifas menores.”
Ele também alertou para o risco de agravamento da situação nos próximos meses. “Talvez, dentro de alguns meses, podemos ter um ambiente um pouco mais construtivo. O desafio é que existe um risco razoável de uma escalada nesse curto prazo.”
Ações do STF são vistas como uma escalada institucional
Para Garman, a visão pessoal de Donald Trump sobre o processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro influencia diretamente a decisão de impor tarifas ao Brasil. “Se existe um país em que a política nacional se espelha na política americana, é o Brasil”, afirmou. Segundo ele, o ex-presidente dos EUA vê paralelos entre sua trajetória e a de Bolsonaro, o que afeta a condução da política comercial.
Ele considera que, mesmo com a tentativa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de evitar a intensificação da crise, ações do Supremo Tribunal Federal são vistas pela Casa Branca como uma escalada institucional. Por isso, não vê solução de curto prazo para a crise.
Leia também: "Casa Branca afirma que Brasil não fez ofertas relevantes em negociação sobre tarifas, diz jornal"
“Nós estamos num embate, e o problema é que o presidente Trump se enxerga no drama do ex-presidente Jair Bolsonaro”, disse.
O analista também afirmou que a aproximação do Brasil com a China não é o principal motivo para as tarifas. “Essa decisão (das tarifas) não passou pelo crivo do corpo técnico", continuou. "É um tema quase pessoal para o presidente.”
Empresas podem ajudar a amenizar crise com Trump
Garman vê espaço para o setor privado contribuir com a negociação, por meio de articulação com parceiros americanos ou anúncio de novos investimentos nos EUA. “Geralmente, a negociação com outros países é o compromisso de mais investimento nos Estados Unidos, abertura de novos mercados e compromisso de compras de produtos americanos.”
Ele considera improváveis sanções mais duras, como a retirada do Brasil do sistema Swift ou do acesso ao GPS americano, por dependerem de decisões multilaterais e contratos complexos. “Acho que esses tipos de medidas mais dramáticas são muito improváveis.”
Para Garman, a relação bilateral deve continuar difícil nos próximos anos. Ele acredita que, se houver exclusão de alguns itens tarifados, a tarifa média pode cair a um patamar “praticável”. Em paralelo, o Brasil deve reforçar os laços com a China, o Sudeste Asiático e avançar no acordo Mercosul-União Europeia.
No cenário político, avalia que Lula pode ganhar fôlego no curto prazo com a associação das tarifas ao bolsonarismo. “Qualquer nome que represente a família Bolsonaro, se o Bolsonaro optar por alguém da família para poder representá-lo em 2026, vai ter um passivo eleitoral.”
Segundo ele, o enfraquecimento da família Bolsonaro pode abrir espaço para outra candidatura da direita.
O post Diretor da Eurasia prevê fracasso do Brasil em evitar tarifas dos EUA apareceu primeiro em Revista Oeste.
Qual é a sua reação?






