Mercado doméstico também deve ser opção ao tarifaço, diz Fiems à CNN

Com o prazo apertado até o tarifaço dos Estados Unidos entrar em vigor e a escassez de sinalização de que a alíquota de 50% ao Brasil deve ser revertida, Sérgio Longen, presidente da Fiems (Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso do Sul), avalia à CNN que “todos os setores impactados devem refazer as suas contas, já colocando nos seus produtos essa tarifa”.
“Procurar novas opções de mercado” é uma das alternativas reforçadas pelo industrial, ressaltando que os produtores devem considerar “encontrar no mercado brasileiro ou nas proximidades da América do Sul uma condição de colocar esses produtos”. Longen relatou que a Fiems vem prestando assessoria nesse sentido a seus filiados.
“Eu entendo que, cada vez mais, essa é a direção, pelo menos é o que nós estamos pondo em conta hoje. Até porque, nós não estamos sentindo nenhum sinal do governo americano em rever essa tarifa até 1º de agosto”, pontuou o presidente da entidade à CNN.
À frente da Casa Branca, Donald Trump anunciou, no dia 9 de julho, que iria elevar a alíquota aplicada contra os produtos brasileiros que entram nos EUA a 50%. Não só o republicano, como seus secretários, reforçaram que o prazo para o próximo mês é definitivo e dificilmente será adiado.
O adiamento do prazo é um pleito que vem sendo defendido pelo setor produtivo para garantir folêgo diplomático – com o governo ganhando tempo para negociar condições – e logístico – a fim de os exportadores conseguirem se adaptar à realidade vindoura.
“Na minha avaliação, dificilmente nós conseguiríamos algo que não seja a ampliação do prazo para a cobrança dessa multa, vamos dizer, até porque isso não pode ser considerado um imposto”, ponderou Longen.
“E, nessa condição, nós tendo mais, digamos, 90 dias, nós conseguiríamos, de certa forma, mandar para o mercado americano aquilo que já está planejado, ou seja, dentro dos setores impactados, em 90 dias, nós poderíamos limpar um pouco dessa programação feita, até porque nós temos contrato em toda a cadeia e nessa direção de ampliação de prazo seria uma solução que, de certa forma, atenderia o nosso pleito”, explicou.
Negociações
Olhando para a postura do governo, o empresário reconhece que há uma tentativa de avançar nas negociações.
Na quarta-feira (23), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o governo nunca deixou a mesa de negociação e que “a informação que chega é que o Brasil tem um ponto”.
“Estamos fazendo tentativas de contato reiteradas, mas há uma concentração de informações na Casa Branca. [… Porém] precisam de duas partes sentadas para conversar, não dá para adiantar uma coisa que não depende só de nós. Em nenhum momento abrimos mão de conversar, mas precisa ter vontade recíproca”, disse o chefe da equipe econômica.
“Nós tivemos boas surpresas em relação aos outros países nos últimos dias, […] podemos chegar à data de 1º [de agosto] com algum aceno de possibilidade de acordo”, exclamou o ministro, em referência aos acordos assinados pelos EUA com Japão, Indonésia, Filipinas e Vietnã.
O presidente da Fiems diz que o governo tem discutido com o empresariado algumas ações que poderiam dar certo no mercado norte-americano, porém, aponta que “a avaliação política ainda é pesada na pauta com o governo federal brasileiro”.
“Há um viés muito político nesse assunto, e aí ele é tratado de uma forma diferenciada. Entendo que poderíamos ser mais agressivos nessa condição, e aí sim o ministro [e vice-presidente Geraldo] Alckmin, ou o próprio presidente Lula, buscar um fronte direto lá no mercado americano, sentar lá, pedir uma agenda oficial com o presidente [Trump] e buscar discutir esse assunto de frente, não na base da mensagem, na carta para lá, carta para cá, Twitter para cá, Twitter para lá”, defendeu Longen.
Entenda o tarifaço de Trump sobre Brasil e como impacta a economia
Qual é a sua reação?






