Nem todo árabe é palestino; entenda

Jul 19, 2025 - 10:08
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Nem todo árabe é palestino; entenda

A definição de palestino ganhou força a partir da fundação do Estado de Israel, em 1948. Mas o termo vem de tempos muito mais remotos. Chegou inclusive a abranger os judeus em sua definição. Em entrevista à britânica Thames Television, em 1970, Golda Meir, então primeira-ministra de Israel afirmou.

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"Essa [região atual] era a Palestina de Mr. Churchill [Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra entre 1940 e 1045]", declarou Golda, que em seguida acrescentou.

"Eu sou palestina! De 1921 a 1948, meu passaporte era palestino. Nã:o havia isso de judeus, á:rabes e palestinos. Havia judeus e árabes."

https://www.youtube.com/watch?v=KiOFITVHf9Q

O que Golda queria dizer é que, durante o Mandato Britânico da Palestina (1920–1948), todos os moradores, judeus, árabes, cristãos, entre outros, que tinham cidadania foram formalmente chamados de palestinos, independentemente da origem étnica ou religiosa.

Depois da criação do Estado de Israel em 1948, o uso do termo palestino passou quase totalmente a se referir aos árabes (muçulmanos, cristãos, drusos etc.) que não obtiveram cidadania israelense, bem como aos seus descendentes.

Os árabes cidadãos de Israel, no entanto, são, em sua grande maioria, descendentes dos palestinos que viviam na região antes da criação do Estado de Israel, em 1948. Dos cerca de 900 mil que habitavam Israel, 750 mil deixaram a país e outros 150 mil permaneceram.

Hoje, chamados de árabes-israelenses, estes que permaneceram, ou seus descendentes, compõem 21% da população. Em termos legais, têm basicamente os mesmos direitos dos judeus nascidos no país. Podem votar, usufruir de direitos civis e ocupar cargos públicos como qualquer cidadão.

A identidade palestina como um movimento político e nacional moderno foi intensificada depois da guerra de 1948 e especialmente depois da Guerra dos Seis Dias (1967). Refere-se aos árabes, ou descendentes deles, que deixaram Israel e passaram a buscar refúgio em outros países ou regiões vizinhos.

Os palestinos são um grupo específico dentro dos árabes: descendentes dos habitantes árabes daquela região geográfica histórica chamada Palestina. Hoje, o termo normalmente se refere aos árabes palestinos (muçulmanos, cristãos, outros), e eventualmente seus descendentes.

Já a definição de árabe é mais ampla, se refere a povos que compartilham a língua árabe, cultura, história e, muitas vezes, religião islâmica, embora haja também árabes cristãos, drusos, etc. Inclui milhões de pessoas espalhadas do Norte da África até o Golfo Pérsico.

Na grande maioria dos casos, portanto, todos os palestinos são árabes, mas nem todo árabe é palestino.

Palestinos e árabes no século 19

O nome Palestina remete aos filisteus, um povo do leste do Mediterrâneo (Aegeu/Grécia antiga) que habitou a costa atual de Gaza e Israel por volta do século 12 a.C. Em hebraico, o termo filisteus é denominado Pelishtím, bem próximo de Palestina.

Ciente disso, e marcado pela intolerância religiosa, o imperador Adriano (117 d.C. a 138 d.C) renomeou a província da Judéia para Syria Palaestina. Em meio ao seu governo corrupto e caótico, Adriano queria retirar os laços judaicos da região, depois da sublevação de judeus, liderados por Bar Kochba, contra a imposição do imperador de helenizar o reino.

Diante da repressão romana à prática do judaísmo, muitos judeus foram forçados a se esconder em cavernas para continuar seguindo os mandamentos religiosos (mitzvot, em hebraico). A rebelião começou quando o líder militar, Shimon ben Kozba, uniu diversos grupos de judeus que combateram os soldados romanos.

Ben Kozba, mais tarde, ficou conhecido como Bar Kochba, cehgou a governar Jerusalém por cerca de dois anos e meio. Até cunhou moedas em celebração à sua liderança. Contudo, Adriano mobilizou uma grande campanha militar para conter o levante.

Mesmo com a determinação dos combatentes judeus, as forças romanas conseguiram, aos poucos, reconquistar as cidades, inclusive Jerusalém. Bar Kokhba então recuou para a fortaleza de Betar, último reduto da resistência, que foi tomado pelos romanos em 133 d.c.

Adriano, então, na tentativa de eliminar a influência judaica, determinou que a região fosse denominada Palestina, em referência a um povo inimigo dos judeus nos tempos do Rei David quase um milênio antes (101 a.c - 970 a.c).

Adriano já poderia ser conhecedor do termo, porque, em grego (segundo o historiador Heródoto, no século 5 a.C.), este é citado, como Palaistínē, referindo-se à região costeira do sul da Síria até o Egito.

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Na Idade Média, o nome passou a ser conhecido como Filastīn ao árabe medieval e foi empregado por geógrafos e cronistas árabes desde o século 7. Tinha uma conotação territorial, não de identidade nacional.

Sob o Império Otomano (1517–1917), Palestina era um nome informal que se referia apenas à área ao sul da Síria. A maioria dos árabes locais se identificavam como habitantes do sul da Síria (Sham) e não como palestinos.

No final do século 19, no entanto, o termo voltou a ser usado para para se referir especificamente a árabes residentes na região. Em 1898, Khalil Beidas, um intelectual palestino-cristão, usa o termo numa tradução e se descreve como palestino.

Beidas era crítico em relação ao assentamento judaico na região. Em artigos publicados em revistas egípcias como Al-Ahram e Al-Muqattam, ele instava o governo otomano a proibir a imigração de judeus.

Este tipo de pensamento foi a semente da perseguição a judeus que buscavam se instalar na região, vindos de países europeus nos quais eles também eram perseguidos. O antissionismo começava então a se misturar com o antissemitismo.

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