Em áudios, Bolsonaro critica acusação e rótulo de “extrema-direita”

Jul 28, 2025 - 09:00
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Em áudios, Bolsonaro critica acusação e rótulo de “extrema-direita”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstrou, por meio de mensagens de texto e áudio presentes no celular apreendido pela PF (Polícia Federal) em 3 de maio de 2023, durante a operação que investigava possíveis fraudes em certificados de vacina, incômodo com as acusações que sofreu no caso das joias e em ser chamado de “extrema-direita”.

Outros diálogos mostram sua proximidade com o ex-embaixador de Israel e com empresários do agronegócio, além de seu empenho em apoiar a abertura de uma CPI contra o STF (Supremo Tribunal Federal), quando já não estava mais no Palácio do Planalto. O conteúdo do aparelho, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, é composto por 7.268 arquivos, incluindo conversas de WhatsApp, documentos, áudios e vídeos.

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Leia as principais conversas divulgadas:

  • Caso das joias

Em 28 de abril de 2023, o ex-secretário de Comunicação Social, Fábio Wajngarten, enviou ao ex-presidente algumas notícias publicadas sobre a investigação das joias sauditas.

Por meio de uma mensagem de áudio, Bolsonaro respondeu: “Ô, Fábio, a nota aí, né? ‘Indícios de desvio de recurso público’. Que que é isso? Onde é que inventou isso, pô? Indícios para me incriminar com peculato? É uma piada, realmente. Valeu”.

  • Agrishow em fazenda de empresário

Em mensagens a aliados, o ex-presidente disse que um empresário cedeu sua fazenda na viagem que fez a Ribeirão Preto, para participar da Agrishow 2023, feira de agronegócio.

Paulo Junqueira, que presidiu o sindicato rural na cidade do interior paulista, foi citado pela PF nas investigações envolvendo o ex-presidente. Mensagens indicavam que Junqueira havia enviado dinheiro para custear a estada de Bolsonaro nos EUA em 2023.

Em 26 de abril de 2023, Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia, enviou mensagem ao ex-presidente perguntando se poderia dar um abraço nele, já que também estaria na Agrishow.

Bolsonaro respondeu, via áudio: “Ô, Sachsida. Vou domingo para lá. Vou dormir na fazenda lá do Paulo Junqueira e 2ª de manhã estou na Agrishow. Vamos lá, te boto lá. Eu não estou mandando muito não, mas consigo te botar no palanque comigo. Valeu”.

Em 30 de abril, o ex-ministro voltou a procurar Bolsonaro, que respondeu: “Pode ir até a fazenda lá. Apesar de não ser minha a fazenda, eu dou o toque lá no Paulo Junqueira para tu entrar. Só não vai poder, acho, dormir lá, o resto tudo bem. Se não der para dormir tu dorme no chão lá com os cachorros também, da minha parte não tem problema não, tá ok. Valeu Sachsida”.

 “Se quiser ir hoje para fazenda, pode ir. Vamos lá! Você, você é VIP meu aí, tá? Já falei agora há pouco com Paulo Junqueira sobre caso como o teu, que eu não sou o dono né, cara. Sem problema, tu vai lá e fica com a gente. Até vê o jogo do Flamengo com a gente lá, desde que torça obviamente contra o Flamengo, tá ok?”, afirmou Bolsonaro.

  • Extrema-direita

Também no diálogo com Wajngarten, o ex-secretário enviou a Bolsonaro uma notícia dizendo que o ex-presidente seria recebido por um partido de extrema-direita em Portugal –trata-se do Chega, mas a viagem acabou não se concretizando.

Bolsonaro se queixou, por áudio, do rótulo de extrema-direita: “Ô, Fábio. Tu sabe que os caras vão manter isso o tempo todo, né? Que é só extrema-direita. Falou comigo, é extrema-direita. O [Donald] Trump também deve ser extrema-direita. Tá ok, mas a gente vai vencer isso aí, vai vencer a extrema-esquerda. Pode deixar. Valeu”.

  • CPI contra o STF

O ex-presidente orientou o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) a assinar um pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra Alexandre de Moraes e outros ministros do STF.

O deputado enviou uma mensagem de áudio a Bolsonaro perguntando o que ele deveria fazer, se deveria assinar o pedido ou se isso poderia prejudicar o ex-presidente futuramente.

O ex-presidente, então, escreveu: “Eu assinaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”. Lopes, então, responde: “Já assinei”.

Proposto em 2022 pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), o pedido de CPI nunca saiu do papel. Tinha como objetivo, segundo seus proponentes, apurar abusos de autoridade do Supremo e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

  • Relação próxima com o ex-embaixador de Israel

O ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, ofereceu-se para pagar uma viagem para Jair Bolsonaro ao país em 2023.

Em mensagens enviadas em 26 de abril de 2023, Shelley pergunta se o ex-presidente vai visitá-lo em Israel. Depois, escreve: “Vou cuidar de você. 14 semanas em Israel, vou pagar o custo de sua presença, hotel e tal por 3 pessoas se você quiser”. O próprio Shelley se corrige, e, em uma mensagem a seguir, diz: “14 dias”, em vez das “14 semanas” mencionadas na mensagem anterior.

Você tem de escolher uma data e vou cuidar das coisas. Será uma grande honra recebê-lo aqui”, acrescenta o ex-embaixador. “Grande abraço, presidente amado”.

O ex-presidente, então, responde: “Ô, Shelley, obrigado. Vou falar com a esposa aí e ver o que ela acha. Obrigado, um abraço”. Bolsonaro de fato encaminhou a mensagem a Michelle, mas ela não respondeu sobre o assunto.

O jornal O Estado de S. Paulo procurou a defesa de Bolsonaro, que disse que não se manifestaria sobre a reportagem. Wajngarten também não quis comentar. Lopes, Shelley e Junqueira não responderam aos contatos da reportagem.

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