Foto histórica de Churchill, Truman e Stalin completa 80 anos

Jul 25, 2025 - 06:52
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Foto histórica de Churchill, Truman e Stalin completa 80 anos

Há 80 anos, os líderes das 3 potências aliadas —Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética— posavam para uma foto que entraria para a história. A imagem capturou o primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965), o presidente norte-americano Harry Truman (1884-1972) e o líder soviético Josef Stalin (1878-1953) em um raro momento de união, durante a Conferência de Potsdam, na Alemanha, realizada de 17 de julho a 2 de agosto de 1945 para discutir o futuro do país e da Europa no pós-2ª Guerra Mundial (1939-1945).

Registrada em 25 de julho de 1945, no jardim do Palácio Cecilienhof, nos arredores de Berlim, a foto tornou-se um ícone do século 20, eternizando a última grande reunião entre esses 3 chefes de governo. Apesar do clima oficial de cooperação, já havia uma tensão que sinalizava não só o fim de um conflito, como também o início de outro —a Guerra Fria (1947-1991). Foi nesse encontro que se definiu, além de outras coisas, a divisão da Alemanha e de Berlim em 4 zonas de ocupação (EUA, Reino Unido, França e URSS), que posteriormente se tornariam simplesmente a Alemanha e a Berlim ocidentais (capitalistas) e orientais (comunistas).

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Para Carolina Amaral de Aguiar, professora do Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), a imagem carrega um peso simbólico que deve ser contextualizado com cuidado.

“A fotografia da Conferência de Potsdam foi considerada tradicionalmente a imagem que simboliza o início da Guerra Fria. Essa visão se baseou em tensões entre Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética referentes a pontos como as sanções impostas à Alemanha, o destino da Polônia e as possibilidades de ataques ao Japão. Apesar disso, essa imagem ainda está mais relacionada ao contexto político anterior —ou seja, às disputas que emergem na 2ª Guerra Mundial— do que à complexidade do que seria a Guerra Fria”, afirmou a internacionalista ao Poder360.

O mundo em reconstrução

A Conferência de Potsdam começou em 17 de julho de 1945 —2 meses depois da rendição da Alemanha nazista, em 9 de maio. Os líderes aliados se reuniram para definir os rumos do continente europeu, como reorganizar fronteiras e estabelecer novas regras para as nações derrotadas. 

Ao longo de duas semanas, temas decisivos foram postos à mesa:

  • divisão da Alemanha em zonas de ocupação;
  • desnazificação e julgamento de criminosos de guerra;
  • redefinição das fronteiras da Polônia;
  • exigência de reparações econômicas da Alemanha;
  • emissão de um ultimato ao Japão —que antecedeu os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto daquele ano, respectivamente.

“Na Europa, a Conferência de Potsdam teve um impacto direto não só no equilíbrio de forças, como também nas fronteiras”, disse Carolina. “Ela corroborou decisões que vinham sendo tomadas desde a Conferência de Yalta (em fevereiro de 1945), como a divisão da Alemanha e da Áustria em 4 zonas de ocupação. A Alemanha foi alvo de intervenções que procuraram enfraquecer e punir o nazismo, além de desmilitarizar e descentralizar a economia”, disse a especialista.

No meio da conferência, Churchill foi substituído por Clement Attlee (1883-1967), recém-eleito primeiro-ministro nas eleições britânicas. Essa mudança inesperada trouxe nova dinâmica às negociações, que já enfrentavam atritos entre Truman e Stalin.

“A preparação para a conferência foi conturbada, pois tanto Estados Unidos como Reino Unido tiveram trocas de líderes devido à morte de Franklin Roosevelt e à vitória do Partido Trabalhista”, observa a professora. “Houve uma descontinuidade entre os debates e as delegações de Yalta e Potsdam, o que contribuiu para atritos nas negociações”.

Ao longo dos anos, Potsdam foi frequentemente retratada como o início formal da Guerra Fria. Mas a leitura dos historiadores é mais cuidadosa e crítica.

“Essa afirmação seria muito simplista, pois implicaria em ver a Guerra Fria exclusivamente como um conflito entre potências”, pontua Carolina Amaral. “A historiografia mais atual entende que a Guerra Fria é um período muito mais complexo, que não envolve só um conflito bipolar”.

Segundo a professora, é impossível compreender o contexto global do pós-guerra sem considerar o papel dos países do chamado 3º Mundo, os processos de descolonização na África e na Ásia e a articulação da solidariedade terceiro-mundista.

“Os países da América Latina, da África e da Ásia, antes vistos só como palcos de um conflito maior entre Estados Unidos e União Soviética, não só tiveram uma participação ativa como também tinham suas próprias agendas de interesse”, completa.

Toda foto é só um recorte

Perguntada sobre quais decisões de Potsdam ainda reverberam nas relações internacionais contemporâneas, a professora responde com cautela: “Creio que suas maiores consequências foram para a Alemanha, que sofreu uma série de intervenções. Também teria ocorrido uma divergência entre Estados Unidos e União Soviética sobre o uso ou não da bomba atômica no Japão”.

Mas, para ela, é preciso evitar superestimar a conferência como um momento decisivo único: “Essa visão restringiria a história aos grandes líderes e, mais ainda, aos líderes das superpotências vencedoras da 2ª Guerra. Como expliquei, os estudos mais atuais procuram entender a participação do 3º Mundo, considerando que a Guerra Fria foi um conflito global, com consequências diversas para as diferentes partes do mundo. Nesse sentido, ela não pode ser reduzida a acordos diplomáticos dos países centrais”.


Esta reportagem foi escrita pela estagiária de jornalismo Nathallie Lopes sob a supervisão do editor João Vitor Castro.

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